A minha filha de 16 está sempre a chatear-me para eu contar as minhas histórias. Hoje decidi-me.
Agosto de 1974. Era comandante de um Destacamento de Fuzileiros Especiais. Cheguei a Bissau depois de mais de 11 meses em Ganturé e no Cacheu com uma secção de valentes. O imediato esperava-me e na Base (INAB) havia grande agitação.
À noite levaram-me a uma discoteca em que o dono tinha conseguido implantar uma dúzia de meninas vindas da Metrópole. Sobre todos pairava a ameaça de Spínola de fechar o espaço após qualquer distúrbio que pudesse acontecer. Mas apesar de Spínola já ter partido tudo era sereno e tranquilo na discoteca. Lotação esgotada e rotação dos clientes porque todos tinham direito a gastar o seu dinheiro amealhado durante meses.
O porteiro era um marinheiro telegrafista duma LDM e deixou-me entrar sem mais. Boquiaberto com os olhos arregalados assistia a um espectáculo maravilhoso quase surreal para quem vinha do inferno em termos comparativos.
Entrei, sentei-me e logo fui abordado por uma esbelta morena de olhos verdes, possivelmente com indicações de alguém, sobre quem eu era. Conversa, sedução e nada mais porque as meninas à meia-noite recolhiam ao 2º andar da vivenda e nem pensar em outras coisas. No entanto, a Lola à minha pergunta se podia raptá-la respondeu que sim, mas sabia que isso era impossível.
Cheguei à base falei com o Correia, a minha fiel ordenança, e arquitectei um plano logo para essa noite. Saímos cerca das 2 da manhã, não me lembro quantos éramos, talvez mais de 30. À chegada
à vivenda, tudo tranquilo, noite abafada e só o coaxar dos sapos. O pessoal fez uma pirâmide humana e sacou a Lola com leveza.
O Correia brilhante conduziu-nos à pensão da Berta e o restante pessoal ficou de segurança. E cerca das 4 da manhã levámos a Lola para casa.
Quando me falam em ter os comandados na mão conto sempre esta história. Liderança. "Cerque-se de gente grande, delegue autoridade; saia do caminho"(Ronald Reagan)
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