George Orwell no seu livro o Triunfo dos porcos definiu a situação num conto excepcional que atravessou as barreiras do tempo, como acontece com toda a obra-prima. A frase mestre do livro é todos os porcos são iguais, mas há uns mais iguais que os outros.
O ponto 9.2 do Regulamento de bolsas de Apoio à alta competição (adiante brevemente designado, RBAC) enumera um conjunto de deveres dos atletas, entre os quis se conta o de garantir a participação no campeonato nacional do seu escalão etário, e no campeonato nacional absoluto. Nos termos do ponto 11 do RBAC, o incumprimento do qualquer dos pontos contidos no número 9.2 - Deveres dos Atletas - pode implicar o cancelamento da bolsa, incluindo a cessação de todos os direitos mencionados, e a obrigatoriedade de repor a totalidade dos montantes recebidos até ao momento do cancelamento da respectiva bolsa.
E assim por diante até ao absurdo. Importa ainda sublinhar que este procedimento tem sido aplicado a todos os atletas por ele abrangidos, sem excepção. A coisa ia mais ou menos como uma camada de verniz até este último parágrafo. Sem excepção.
Não acredito, muita gente ligada ao ténis e eu, que isto seja verdade. Para acreditarmos é muito simples. Transparência e verdade. Ou seja, publicar, informar, o montante de cada bolsa, atleta por atleta, o que a FPT não faz, nunca fez. E publicar e informar quais os montantes deduzidos das bolsas de cada atleta por incumprimentos, ou até quais foram os atletas que viram as suas bolsas canceladas. Se publicarem todos acreditam, os que têm medo de denunciar as irregularidades, os que não têm medo mas temem represálias e assim a comunidade tenística pode apreciar o sem excepção.
A aplicação, a ameaça de publicação e a péssima gestão de um regulamento tem prejudicado de forma grave dezenas e dezenas de jovens atletas e impedido a sua progressão e desenvolvimento. Aos que se interrogam, porque jogadores nacionais estão a começar somente a revelar-se no profissionalismo depois dos 21/22 anos, a resposta é que são impedidos de o fazer mais cedo, salvo um caso ou outro. Recentemente, por exemplo, os organizadores de dois torneios ITF femininos no norte de Espanha perguntaram a dirigentes de Associações no norte do país, quais as razões da não participação de atletas portugueses nesses torneios, visto que Neuza Silva e Ana Catarina Nogueira já tinham sido vencedoras dos mesmos. A resposta foi simples. A FPT não permite, não deixa. Os espanhóis soltaram gargalhadas. Acontecer isso em Espanha seria inconcebível.
Acabando como comecei, todos os atletas são iguais, mas há uns mais iguais que outros, digo eu.
Nota : Em tempo, acrescento. O pagamento das bolsas deve ser feito rigorosamente até ao dia 31 de janeiro da cada ano. Mas não é. Nem nada parecido. Uma excepção excepcional.
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