sábado, 7 de agosto de 2010

Os assobios

Fui uma vez candidato numa lista de direcção nas eleições do Sporting CP. Foi no tempo em que Jorge Gonçalves ganhou as referidas eleições. Num estilo populista, Gonçalves apresentou sucessivamente durante a campanha eleitoral as "unhas do leão" que eram jogadores que tencionava contratar caso ganhasse as referidas eleições. Os novos jogadores eram apresentados todos os dias através de notícias na imprensa e depois ao vivo antes dos jogos do campeonato em Alvalade. O método era simples. Junto de um grande empresário internacional da época, Juan Figuer, conseguia, pagando, que os jogadores viessem por 15 dias a Portugal e fossem apresentados como potenciais reforços. O Sporting não ganhava nada há muitos anos e os sócios alimentavam o sonho de ganhar um campeonato. Os sócios e novos sócios entraram em massa no Sporting, e mesmo os mais cautelosos aderiram a votar em Jorge Gonçalves, sem reflectir, e o movimento tornou-se imparável.
Jorge Gonçalves foi eleito presidente do Sporting. Quando saiu, deixou um rasto de dívidas e de situações muito graves por resolver, que feriram gravemente o leão durante muitos anos. Ele próprio, perseguido pela Justiça, refugiou-se em Angola durante muito tempo. No período entre a sua chegada e partida, o Sporting transformou-se muito. Para pior. O mais grave, quanto a mim, foi a entrada de muitas pessoas que vieram perturbar o clima de cordialidade que existia entre os sócios. Muito ao estilo do clube rival. Mentalidades iguais, desde que sejam muitos, o mais possível e que acima de tudo querem resultados. A qualquer preço. Com ou sem batota é preciso é ganhar.
Os assobios que aconteceram em Alvalade na passada quinta-feira fazem parte dos restos que ainda andam por ali, e que só o passar do tempo consegue dissipar. São muito corajosos em rebanho e no futebol, mas em outras situações da vida, mais importantes, não tomam posição, escondem-se e assobiam para o lado. Durante o jogo assobiam a equipa na qualidade de pequenos patrões, depois do jogo assobiam para o lado e fingem que não se passa nada, na qualidade de empregados medrosos. São os adeptos bipolares.

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