É preciso mais que talento para vestir a camisola nacional.
As escassas pessoas que assistem aos campeonatos intercidades de ténis, no nosso país, sabem disso. Os miúdos sub-12 e sub-14, transcendem-se na defesa da sua cidade. Alguns, que são habitualmente superiores em torneios individuais, fraquejam sem razão aparente, perante outros menos rankeados. A razão é simples. Há muita pressão colocada sobre eles ou elas, e afecta mais uns do que outros. Já vi miúdos, jogarem em grande, com forte personalidade e carácter, mas que depois não manifestam esses atributos nos diversos torneios pelo país. E vi, outros que se apagam de forma difusa e inexplicável. A mente, a cabeça como se diz em gíria é muito importante no ténis. Mas nas convocatórias para as selecções ou simplesmente para representar cidades, este facto não é tomado em conta, só o ranking vale. Nenhum capitão ou treinador corre o risco de seleccionar um jogador em detrimento de outro mais bem posicionado. Isso nunca aconteceu. Nunca. Por mais que venham com histórias. Exige muita coragem. Muita. Nas modalidades colectivas este fenómeno não acontece. Precisamente porque é possível diluir no conjunto as boas e as más escolhas.
Este fim de semana, no âmbito internacional, na disputa de uma eliminatória da Taça Davis, aconteceu um facto excepcional, que justifica o título deste post. A Taça Davis é considerada o Campeonato do Mundo do ténis. Em Estocolmo, disputava-se um duelo quase com vencedor anunciado. O Suécia versus Argentina. A Suécia apresentava Roben Soderling (Nº 7), Robert Lindstedt um dos melhores duplistas mundiais e outros dois jogadores menos cotados. A Argentina tinha Juan Martin del Potro (Nº 5) e Juan Monaco (Nº 27) lesionados e que abriram mão da selecção, por isso foram convocados Eduardo Schwank (Nº 64), Leonardo Mayer (Nº 66) e outros dois jogadores. No 1º singular Robin Soderling venceu Eduardo Schwank em 3 sets. No 2º singular Leonardo Mayer bateu Joachim Johansson em 4 sets. Ao fim do 1º dia empate 1-1 entre Suécia e Argentina. O capitão da Argentina sabia que a dupla sueca para o jogo de pares era muito forte e iria ganhar, e adicionado a mais que provável vitória de Soderling no 3º dia, a Suécia venceria o confronto.
O capitão argentino Tito Vásquez, um homem de grande coragem, manda chamar de urgência David Nalbandian que estava na fase final de recuperação de uma lesão no adutor direito, o músculo do peito que liga directamente ao braço. Nalbandian está há muito tempo sem jogar é actual Nº 139 do ranking mundial, tendo sido em tempos passados Nº 3. Ele efectua uma viagem enorme e chega no 1º dia do encontro. Aproveita todas as horas para descansar. Nalbandian é conhecido pelas suas recuperações fantásticas, nunca dá um jogo como perdido e luta sempre nos limites. No 2º dia, a Argentina alinha com David Nalbandian e Horacio Zeballos contra a quase invencível Suécia de Soderling e o especialista Lindstedt. É um duelo memorável. Uma luta sem limites, e mesmo com uma contractura que teve no aquecimento e a lesão no adutor, cheio de dores, Nalbandian ultrapassa todas as dificuldades. Só no dia seguinte ele contou as terríveis dificuldades porque passou. Às vezes os resultados falam por si, a Argentina ganha por 6/2, 7/6(4) e 7/6(5). No fim do 2º dia a Argentina vence por 2-1.
Mas ainda nada estava ganho. No 3º dia Soderling vence Mayer e repõe o empate 2-2. No último singular, David Nabaldian vai jogar contra Andreas Vinciguerra um esquerdino de 29 anos e Nº 233 mundial, mas com a característica de ser um servidor fenomenal e um jogador muito móvel. Nalbandian joga a grande nível, rompe com todas as precauções, foi de tal modo emocionante que a Argentina levou duas advertências, pelo comportamento dos suplentes. No final, David ganha em 3 sets. Todas a equipa argentina corre para ele. O salvador da Pátria, como a imprensa mundial classifica o seu feito. Há momentos em que um homem se supera, se transcende, toca o infinito.
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