Dizem que Roger Federer quando era juvenil tinha um comportamento muito incorrecto durante os encontros, que o levava a entrar em discussões verbais com o adversário, além do tradicional ritual de partir raquetes. Os conflitos eram muito regulares e era chamado a atenção por esse facto, embora todos concordassem que era um grande talento. Quando terminava os encontros, era confrontado com o seu péssimo comportamento e negava com determinação que tal tivesse acontecido. Contam, que um dia filmaram integralmente um encontro que disputava e em que teve, mais uma vez, atitudes e comportamentos pouco abonatórios. Terminado o jogo foi imeditamente confrontado com essas situações. E voltou a negar que tal tivesse acontecido, considerando as críticas muito exageradas. Então, passaram o filme. Esse, sou eu? Eu fiz isso? Ele não tinha mesmo a noção da situação. Todos que acompanhamos o ténis um pouco mais por dentro sabemos que estas situações são muito normais.
Pode-se dizer, sem exagero, que McEnroe atingiu o limite neste tipo de comportamentos. Ainda há dias, com 51 anos, num torneio de veteranos em Zurique, fez uma cena das antigas pela discussão de um ponto. Aceitava perfeitamente que a sua bola tinha sido fora e revoltou-se contra o árbitro que tinha aceitado a bola como boa. E era a favor dele.
Em conversa com um árbitro internacional português, ele contou-me uma série de episódios sobre o comportamento dos mais variados jogadores de topo nacionais e mundiais. Mais que partir raquetes ou discussões de bola dentro e fora, o que me impressionou fortemente, foram as histórias sobre a troca de palavras dentro do court entre os dois jogadores, palavras essas imperceptíveis de ouvir pelo público. Rafael Nadal conta que Sampras e Agassi, trocavam palavras e insultos de tal forma rápido, que ele não conseguia ouvir e perceber nada, no recente jogo de pares de beneficência a favor das vítimas do Haiti. Penso, disse Nadal, que esta guerra entre eles vai durar sempre. Referindo-me a vários jogadores portugueses, disse ao meu amigo árbitro de ténis, que pensava que fulano e cicrano não falavam durante o jogo. Ele vinha de arbitrar uma final, a que assisti. Imediatamente, me contou algumas histórias rápidas que os que
julgava eu, serem santos, não o eram. Ora eu tinha assistido à final com atenção. E não vi nada. O meu amigo contou-me tudo tim tim por tim tim.
Deixei passar o tempo necessário, para o meu amigo jogador se recompor, e nem precisei de ir ter com ele. Veio junto a mim e perguntou-me se tinha gostado. Claro, disse eu. Devo confessar que sou fã dele, do seu comportamento, da forma de jogar e do seu talento. Mas porque durante o jogo, nas situações tal e tal, disseste aquelas palavras. Olhou para mim, com aquele olhar calmo que o caracteriza e disse : não me diga que reparou? E ouviu mesmo? Claro, disse eu. Sorriu e respondeu : para o intimidar, ele detesta que lha façam isso, e tinha que o desconcentrar.
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