Trascrevemos um artigo do jornalista espanhol Enrique Ortego (Marca), que evidencia um nível que infelizmente não existe nos nossos jornais desportivos, talvez por terem olhos de ver tingidos de vermelho. O artigo intitula-se O conselho de Mourinho.
1. Movimentos estudados. Para José Mourinho o terreno de jogo é como um gigantesco tabuleiro de xadrez e os seus jogadores são as peças que move de forma estudada e trabalhada. Não pode haver outra explicação para a sincronização que têm quase todos os movimentos, tanto defensivos como ofensivos, que executa a equipa ao longo do jogo.
A marcação a Robben, efectuada em diversas zonas do terreno, foi o exemplo mais sofisticado. Mas não pode passar de forma inadvertida como Zanetti se colocava automaticamente a lateral direito, sua posição original de juventude, cada vez que Maicon passava do meio campo para se incorporar no ataque. Ou como Sneijer saía indistintamente a Van Bommel ou Schweinteiger cada vez que estes jogadores tentavam canalizar o jogo.
2. Milito e Eto'o. Ambos chegaram no princípio da temporada ao Inter. Dos dois avançados, Mourinho nunca descartou nenhum dos dois, e inclusivamente chegaram a jogar juntos das poucas vezes que jogou em 4-4-2, mas quando optou por jogar com esse 4-2-3-1, o grande sacrificado foi o camaronês. Depois contratou Pandev no mercado de inverno para substituir a Eto'o que foi para a Taça de África.
De volta, havia que tornar compatíveis aos três...e Mourinho conseguiu, mas sacrificou os dois para as laterais. O ex-Barça, à direita, o ex-Lazio, à esquerda. Milito no meio, no seu posto inato.
Enquanto o argentino se converteu no homem chave da equipa com quatro golos decisivos. Taça de Itália, Campeonato em Sienna e final da Champions(2), o camaronês desde a lateral corre mais para trás que para a frente e apenas pisa a área, remata. Uma pena porque o Inter ganhou um todo-o-terreno, mas perdeu um goleador.
3. Defender e atacar. Defensivamente a organização táctica das equipas de Mourinho é quase perfeita. Acumula muitos homens atrás da bola e ocupa perfeitamente todos os espaços. Defende com oito, como mínimo. Mas isso não quer dizer que não ataque. Quando tem a bola sai com cinco ou seis jogadores como mínimo. A saber, pelas laterais sai com Maicon e Zanetti, que tem sido o lateral esquerdo nos últimos jogos. Por dentro com Sneijder, que conta sempre com Cambiasso por perto, para uma parede e um apoio e à frente estão os três avançados que cobrem toda a linha da frente. Eto'o, Milito e Pandev.
Não tenho nenhuma dúvida, que no Real Madrid, Mourinho dará uma volta total a esta forma de jogar. Os avançados não baixarão tanto e os centrocampistas terão a bola mais tempo em seu poder. Não haverá tanto passe directo da zona central aos seus avançados e haverá mais caudal de jogo combinado. Tempo ao tempo.