sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma lição de ténis


Referimos aqui, alguns aspectos extraordinários que extraímos de uma entrevista concedida pelo norte americano Larry Stefanki ao site revistatenis. Stefanki é o actual treinador do chileno Fernando Gonzalez, e foi treinador de John McEnroe, Marcelo Rios, Yevgeny Kafelnilov e Tim Henman.

No ténis tens de correr se quiseres jogar. Se não, vais ter um problema durante a tua carreira. Porque ténis é footwork e jogo de corrida num rectângulo. Se não gostas de ir para a frente e para trás, e vice versa, repetitivamente, não te vais dar bem com o ténis. Terás que efectuar pancadas incríveis de todos os ângulos e com diversas dinâmicas. A dinâmica de um encontro de ténis é totalmente diferente de outro desporto, por causa da geometria, das alturas, dos efeitos, do reconhecimento dos efeitos, que o opositor está tentando fazer. Temos que interpretar o que o opositor está querendo fazer. E tudo deve ser entendido em instantes. Tens que observar perfeitamente o teu oponente e adivinhar o que ele quer fazer. McEnroe era perfeito nisso.

Quando todos pensavam que John McEnroe era extremamente rápido, ele não era. Ele intuía o que o opositor ia fazer, dependendo da posição dele no court. Conhecia perfeitamente os ângulos. Ele processava no cérebro as opções que o oponente tinha e, por isso parecia rápido. Ele cobria imediatamente certas áreas do campo, antes que o seu adversário fizesse a pancada. É quase como um jogo de xadrez, em que antecipas uns lances à frente.

Mac tinha todos os tipos de pancadas (golpes). Ele entendia bem o jogo geometricamente e batia a bola na subida, quase sempre fora da zona de conforto, de modo a surpreender o opositor por antecipação. Se precisas de mais tempo para bater na bola, ou seja, não gostas de atacar a bola logo, então deves ser mais rápido sem ela. Tem que se reagir mais rápido quando se está sem ela. Não devemos esperar que a bola venha ter connosco, mas acelerar o movimento de pés. Acredito muito na duplicação, ou seja controlar o voo da bola de ténis, a sua direcção. Muitos batem a bola, mas não controlam a direcção. Isso faz a diferença. Não se preocupar tanto com a velocidade, mas com as áreas do quadrado, ou seja a consistência. as pessoas hoje em dia, estão muito preocupadas coma velocidade e as linhas. Estás batendo uma bola acima dos 200Km/k e queres acertar nas linhas? Isso é quase um acidente, uma casualidade.

Uma vez Borg disse : "Se acerto na linha, é porque errei a pancada, pois estava olhando para um metro dentro do quadrado." O que interessa é a área dentro do quadrado, para ser consistente. Borg corria e movia-se melhor de que qualquer um até hoje. E mentalmente, era muito forte. Com essa duas componentes, frieza mental e um par de pernas, ele destruía os adversários. Borg tinha outro nível do que Nadal. Nadal tem um corpo grande, Borg não. Era como uma gazela. Podia aguentar cinco ou seis horas sem problemas. Acho que Borg, Rod Laver, Mac, se tivessem começado na mesma época seriam campeões agora, porque muito tem a ver com a mentalidade.

Acredito que o jogo de ténis é antes de mais tirar tempo ao seu adversário, capitalizar as bolas curtas, batê-las na subida e vir para a frente. O jogo tem duas dinâmicas : defesa e ataque. E deves reconhecer que estás em determinado momento na defesa, mas logo que puderes, tens que fazer a transição para o ataque. Isto é muito importante. Os jogadores que conseguem fazer isso, são os melhores jogadores, o que eu chamo de multi dimensionais. Gosto de jogadores que sabem jogar em todo o rectângulo, não se limitando apenas a um pedaço dele, ou de um lado, batendo forehands. Isso é muito limitativo.

Um tenista se for muito ofensivo pode durar menos tempo jogando ténis. Isso não acontece quando se é muito defensivo. Porque o jogador ofensivo, movimenta-se muito, para terminar os pontos rapidamente e isso causa um grande desgaste. Quando se começa a perder velocidade, necessitamos algo em que nos devemos apoiar. Pode ser um grande serviço, por exemplo. Jogadores como Mats Wilander ou Borg aposentaram-se cedo porque não tinham nada em que se apoiar, quando perderam velocidade.

Quando bates uma bola na subida, tiras muito tempo a um jogador como Nadal, que joga seis ou sete metros atrás da linha final. Isso é muito corajoso e acho que Federer podia fazer isso mais vezes, quando joga contra Nadal. Tem que se arriscar, não se vence Nadal jogando na defesa. Quando mais vezes eles baterem numa troca, melhores eles são. Tem que os tirar da base, com golpes curtos, e não estar a trocar bolas com ele.

Treinar exige muita abnegação. Não podes ser treinador e ser egoísta. Trata-se de fazer entender os tenistas do que eles têm de executar. Uma coisa é executar no treino, outra é transportá-la para o jogo. A dinâmica do jogo aprende-se pelos treinos e depois nos jogos. Muitos dizem : " Poderia e deveria ter feito isso." Mas não trabalharam nisso.

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