segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pai treinador - Parte II

Sempre gostei de desporto. Há quem se lembre, de ver o meu pai comigo ao colo, a subir as bancadas de madeira de um antigo campo de futebol, que havia ali para os lados do Campo Grande. Pratiquei várias modalidades desportivas e fui campeão nacional. Cumpriu-se a profecia do meu pai que disse - nunca vais ser nada. Conheci e fui treinado por Ricardo Ferraz, Mário Moniz Pereira, Mário Lemos e Júlio Cernadas Pereira (Juca), entre outros, conheci e privei com os maiores valores nacionais da minha geração. O serviço militar e África interromperam o meu percurso desportivo.
Como Pessoa e Agostinho da Silva sempre pensei que "podemos e devemos aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que não vêm do acaso e não são do acaso. Tudo está em tudo e o meu passeio calado é uma conversa contínua, pois todos nós, homens, casas, pedras e céu, somos uma grande multidão amiga, acotovelando-se de palavras na procissão do destino."
Como militar, ensinei, combati e vivi. Estive na Revolução e fui exilado politico. Regressei e licenciei-me nos números da economia. Fui militar e civil. Reformei-me.
"O tempo livre quando não se enche com coisa nenhuma, torna-se absolutamente insuportável, destruindo o indivíduo por completo. É a razão porque morre tanto reformado já que, deixando de ter emprego, se não encontram novos objectivos na vida, a morte seguir-se-á rapidamente" disse o filósofo.
Assim, saí de casa um belo dia, deixando a depressão para trás , entrei no Carcavelos Ténis e fiquei na magnífica esplanada a ver o pessoal a jogar. Foi emocionante. No dia seguinte voltei. Comecei a ir a outros clubes ver treinos, torneios, mas principalmente novos jogadores. E entrei num chat de um blogue de ténis. Como queriam resultados comecei a ir mais, cada vez mais. Estou viciado. Confesso. Acho que sem retorno.
Observando tudo o que me rodeava, através de contínuas presenças em torneios, comecei a conhecer atletas, pais, treinadores e o mundo do ténis, que igual a um circo monta a tenda aqui, desmonta e volta a montar. As personagens variam pouco, todos se conhecem, falam uns dos outros, somos uma tribo de nómadas.
Cabe agora falar dos treinadores. Existem basicamente três tipos. Em primeiro lugar aqueles que foram antigos jogadores ou estiveram ligados ao ténis, durante muito tempo, e pretendem exercer o ensino do ténis como profissão, no futuro. Em segundo lugar, os licenciados nas Faculdades com cursos de Motricidade Humana ou Desporto e que após a conclusão do curso, pretendendo exercer uma profissão, vêm parar ao ténis. Em terceiro lugar, o pai treinador, ou seja aqueles que tem filhos ou filhas que jogam ténis, e que tem como princípio "quem melhor do que eu, conhece e sabe o melhor para o meu filho?". Eles vêem nos seus filhos, potencialidades enormes, relacionadas com algumas vitórias e bons rankings juvenis, sonham cumprir o destino.

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